Por que visitar uma cidade mais de uma vez?


Meu consultor de viagens sempre brinca comigo, toda vez que vou planejar minhas férias, dizendo: “o mundo está acabando para você”, eu decidi medir o conceito da teoria dele, para descobrir em quantos países eu realmente já estive e quantos ainda faltavam para efetivamente o mundo acabar para mim. Em uma pesquisa rápida pelo site das Organizações das Nações Unidas (ONU) descobri que, em 2017, existem 193 países reconhecidos oficialmente, entretanto nessa contagem não estão presentes países como Taiwan, Vaticano, Cristiania, Groenlândia e outros que não são reconhecidos como localidades independentes, pelos mais diversos motivos.

Por recomendação de uma amiga, também viajante, eu baixei o aplicativo BEEN, disponível gratuitamente tanto para o sistema IOS quanto para o Android. Basicamente, nesse APP você lista os países que já esteve e ele lhe apresenta um mapa virtual com as localidades que você conhece na cor laranja e as demais em cinza claro, ele ainda mostra qual é a porcentagem do mundo e o número de países visitados. No meu caso eu já estive em 34 países reconhecidos, em 1 país não reconhecidos e em uma região autônoma. De acordo com o app já estivem em cerca de 14% de todo o território do planeta, sendo 50% da Europa, 28% da América 

do Sul, 3% da Oceania e 1% da África.

 Esses dados me levaram a questionar a brincadeira do meu consultor de viagens, mesmo porque, ainda falta muita coisa para eu conhecer. São cerca de 36.7

22 cidades registradas pela ONU em 2016. Podemos dizer que deste número apenas 13% das cidades do mundo são potencialmente propícias para o turismo, ou seja, oferecem o mínimo necessário para o turista, como hotéis, restaurantes, pontos de interesse, segurança, entre outros. Essa porcentagem apresenta um número muito alto de cidade para se conhecer em uma única vida, mesmo se uma pessoa passasse toda sua existência viajando seria impossível, visitar todas as cidades turísticas do globo. Isso me conduziu a outra questão: Por que, então, visitar a mesma cidade mais de uma vez?

A resposta é simples, pelo menos, para os apaixonados em desvendar cada canto de uma determinada localidade e conhecê-la em sua suprema totalidade. Entretanto existem cidades e cidades. Alg

umas localidades se justificam sozinhas o porquê ir e voltar inúmeras vezes, como Paris, Roma, 

Nova York, Londres e Berlim. Nessas sempre há uma infinita gama de coisas para se fazer, se aprender, ver e se entreter, mas não se justifica, por exemplo, ir mais de uma vez à Zagreb, Atenas, Washington e Tallinn. Sim, algumas cidades pedem um flashback! E ele é necessário.

Outro fator relevante, além dos infindáveis números de itens para se fazer nessas localidades, é que as mesmas estão sempre se renovando, sempre há novas atrações, novos espetáculos, novos museus, novas óticas de se enxergar a metrópole de acordo com a estação do ano, e nós também mudamos, somos uma metamorfose ambulante. Como diria Heráclito: “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou.”.

Levando o pensamento deste grande pensador como filosofia de vida eu escrevo minha lista de lugares para visitar antes de morrer dividindo-a em duas fileiras, de um lado estão os locais que quero ir e do outro lado estão os locais que eu pretendo retornar uma ou mais vezes. Não tenho a intenção de visitar o mesmo local duzentas vezes, eu só quero aproveitar a suprema capacidade do local de me acolher, de me ensinar.  

Eu garanto que é impossível passar dois ou três dias em Paris e afirmar com todas as letras que conseguiu conhecer tudo! Desculpem-me, mas essa é uma frase que não tem como estar correta. Ela não tem fundamentos e não condiz com a realidade, uma pequena adaptação no contexto desta sentença a faria ganhar mais sentido. Por exemplo dizer: “Passei três dias em Paris e conheci tudo que desejava”, agora sim, os seus três dias na capital francesas atingiram suas expectativas, e você particularmente viu tudo que estava na sua lista de desejos. Para mim é um pesadelo passar tão poucos dias em uma metrópole tão rica, culturalmente faland

o.

A sensação de retornar a um local em que já se esteve é indescritível, é pura magia, a maneira que olhamos para a cidade muda completamente. Na primeira visita ficamos deslumbrados com os monumentos principais, temos a fome de devorar vorazmente os pontos mais celebres, entretanto em uma segunda visita ficamos mais atentos aos detalhes, notamos que as tampas dos bueiros são decoradas com temas da cidade, as ruelas adjacentes às ruas e avenidas principais escondem belezas reais, restaurantes simples acabam sendo fantásticos e que uma sacada pode esconder uma imagem memoravelmente incrível.

Seu acompanhante de estrada pode influenciar sua visão da cidade e o foco também, a viagem toma um rumo diferente de acordo com a nossa companhia. Estar sozinho lhe dá liberdade para explorar e fazer o que lhe der na telha, estar com amigos lhe trará ótimas risadas e muita diversão, estar com um namorado (a) lhe dá uma visão romântica, com a família dividimos momentos únicos e às vezes algumas discordâncias.

Já estive em mais de trinta países, mas isso não significa que eu já não tenha repetido alguns destinos. Já estive três vezes em Paris, Praga e em Berlim. Já visitei Budapeste duas vezes e este ano foi minha quarta vez em Amsterdam. Eu adoro retornar para as cidades que eu mais gosto e aproveitar tudo que ela pode me oferecer. Então eu pergunto: por que não retornar?

POR: VICTOR GALE